domingo, 27 de junho de 2010

A vida é colorida, a realidade é preto e branca

       Aluguei ontem "A identidade de nós mesmos", do Wim Wenders. Comecei a gostar desse diretor em "No Decurso do Tempo", a admirar em "Um Truque de Luz" e agora a ficar fã com esse filme.
        Em "A Identidade de nós mesmos" Wenders fala sobre a questão da identidade em um mundo com tanta diversidade, do quanto essa diversidade influencia e causa exatamente a perda da identidade, do real, do que é possível, do ser humano e que pior, a identidade está fora da moda. Ele fala sobre isso através de um estilista que muito admira, o japonês Yohji Yamamoto. 
       Uma vez, ao comprar um paletó e uma blusa, Wenders se sentiu tão bem que se assustou. Aquela roupa trouxe uma sensação nostalgica, um cheiro da infância permeou seus sentidos, ao colocar aquela roupa que lhe caiu tão bem. Aquilo o deixou curioso, pois há tempos não se via tão bem no espelho,  viu ali um quê diferente, um quê de realidade, foi assim que chegou até Yamamoto.

Win Wenders e Yohji Yamamoto
       O filme é praticamente um documentário e é meio parado,  tanto o diretor quanto Yamamoto falam calma e pausadamente, o que faz com que o espectador possa digerir aos poucos as informações que recebe. No clima da Copa eu estava mais era pra "Missão Impossível" (com esse time...voltando!) mas esse me chamou bastante atenção não só pelo todo, pelos takes aonde tinham três imagens diferentes ao mesmo tempo (só vendo para ver como ficou boa essa montagem) e pela forma como Yohji toca seu trabalho. Fica clara o porque da admiração de Wenders pelo estilista e em uma parte do filme acontece essa seguinte situação:

Wenders (locução): - Perguntei a Yohji sobre estilo. Como ele poderia apresentar uma dificuldade enorme para criatividade... O estilo podia se tornar uma prisão, uma sala de espelhos onde você só consegue se espelhar e se imitar. Yohji disse que conhecia bem esse problema, e que claro, havia caído nessa prisão.
"Escapei dela - ele disse - quando aprendi a aceitar o meu estilo e de repente, a prisão se abrira."
Isso para mim é um autor: alguém que, para começar, tem algo a dizer, que sabe se expressar com sua própria voz e que finalmente encontra em si a força e a insolência necessária para se tornar o guardião de sua prisão, e não continuar prisioneiro.

Essa parte é sensacional
Por quantas vezes repetimos os mesmos pensamentos, permanecemos nas mesmas dúvidas, com medo de estabelecer um pensamento final.  
Por quantas vezes desejamos ser aquilo que não somos, aquilo que não temos, aquilo que parece ser mais bonito, colorido, prazeroso, mas que no final tem as mesmas dúvidas, insatisfações, angústias que nós. Apenas se apresenta mais colorido, e por assim sendo, não é real.
Se pegarmos o que temos em nós e aceitarmos como o melhor que podemos ser e oferecer, com certeza a mente abre para que aquilo sofra, ou melhor, ganhe, uma explosão de criatividade, de beleza, de satisfação, fazendo com que possamos nos surpreender com nós mesmos! É como se o caminho antes ocupado pelo desejo de ser outro (obs: não confunda ser o outro com mudar a si próprio..) fosse uma verdadeira prisão e ao reconhcer aquilo que se tem e fazer o melhor com isso,  você se torna o guardião do conhecimento, saindo do lugar de prisioneiro para o do ser livre.
Yamamoto é um dos mais bem conceituados estilistas dessa época e seu trabalho se destaca não por detalhes exuberantes, modelos dignos de Grécia antiga ou status, mas sim porque simplismente as roupas caem bem nas pessoas, afinal, aquelas que as vestem, são reais. 
"A vida é colorida, mas a realidade é preto e branco" é uma frase dita em outro filme do Wenders, o qual ainda não assiti, mas será minha próxima locação. Não preciso comentar mais nada, ela resume o modesto parágrafo que acabei de escrever...

Abaixo o trecho do filme no qual essa parte acontece:

       
       No próximo post vou abordar essa questão do ser, da roupa, do corpo real. Ela também é trabalhada no filme e vale trazer aqui, só que estou cansada e amanhã tem jogo, quero tocer bastante!
Depois que o colorido da Copa passar, volto para o preto e branco da vida...

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