quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Olhar de Nós Mesmos

Há um tempo atrás escrevi um extenso post sobre Wim Wenders e seu filme "A Identidade de Nós Mesmos". Ontem comecei a ver o doc "Tokyo Ga", uma viagem de Wenders a Tóquio de Yasujiro Ozu. Por coincidência os dois filmes tem algo japona, já que em "A Identidade de Nós Mesmos" o personagem principal é o estilista japonês Yohij Yamamoto. 

A narração de Wenders, em qualquer um de seus filmes, é afrodisíaca. Seu olhar existencial e sua voz calma e madura aos poucos vão construindo um novo olhar dentro daqueles que veem seus filmes. 
Asiáticos sempre foram conhecidos por sua introspecção, disciplina, tradicionalismos e uma "secura" no tratamento, principalmente para nós brasileiros que ao ver um conhecido nos jogamos em seus braços com um bom e alto "há quanto tempo não te vejo". Para os asiáticos, ou pelo o menos a imagem deles que nos temos, essa vontade de expressar o sentimento seria reprimida a um rápido e cordial baixar a cabeça e voltar.


Win Wenders, assim como Ozu em muito de seus brilhantes filmes, mostra um outro lado asiático, um sorriso escondido, uma gentileza livre, uma alegria atrás da tradição dos cumprimentos e das relações humanas.
Não é fantástico quando temos um olhar sobre algo e outra pessoa ou situação vem e muda completamente a imagem e opinião?
Pelo olhar detalhista e admirável de Wenders é possível, seguido de sua narração então, é ainda mais interessante.

"Tokyo-Ga" começo:



O começo de "A Identidade de Nós Mesmos":






Comercial para as câmeras Leica:


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Entre monstros e moçinhos

Outro dia fui a papelaria e ao esperar por uma impressão me debrucei no balcão de vidro. Depois de um tempinho percorrendo os olhos pelo lugar olhei para baixo e vi que estava apoiada em vários papéis. Anúncios, ditados, pensamentos, desenhos, etc. Em uma das folhas estava um papel retangular pequeno escrito: "Como matar um político". Tinha alguns desenhos, algo com humor, mas agora não me lembro bem. Quando vi aquilo eu pensei, "políticos.. o que de tão diferente eles tem de nós?". 

Cara, toda vez que se fala em político aqui no Brasil fala-se de uma forma como se o político nascesse de chocadeira, tivesse vindo do espaço ou então brotado da terra, qualquer uma dessas opções, só para se tornar político. O que o povo esquece é que político vem ao mundo da mesma forma que você veio, e "pior", ele cresce entre nós da mesma forma, só que quando adulto se torna político. Então porque precisamos de uma cartilha para matá-lo como propunha o papel no vidro? Mata-se ele da mesma forma que você morreria. O brasileiro reclama muito, mas não está nem ai para o que acontece ou deixa de acontecer na política do seu país, não só na legislativa, social, mas do seu dia-a-dia. Trocamos voto por benefícios, colocamos parentes em cargos do governo, não temos memória quanto aqueles que estão pedindo o seu voto e quando o assunto é política não tem nem noção do nome do Governador do seu Estado.



Eu não estou aqui defendendo político, de forma alguma, mas me preocupa essa visão de contos de fadas onde existe o mal (os políticos) e o bem (nós, cidadões), onde as coisas se justificam porque há alguém malvado querendo poder e tentando arruinar a vida dos bons, sabe?  
No caso dos políticos esse "mal" sai de dentro do "bem", porque eles nada mais são que pessoas como nós, e se nós somos bons então um dia eles já foram, é nesse ponto que eu queria chegar.

O negócio é que nada na vida é por si só, sozinho, aconteceu por um só meio, tudo está interligado. O político nada mais que o reflexo do brasileiro, do meio em que ele vive, dos exemplos que ele teve de quem, também brasileiro, já esteve no poder. Os políticos somos nós.
Na história do mundo se Hitler teve a possibilidade de governar e criar o Nazismo é porque pessoas o apoiaram e permitiram seu poder, se Bush se tornou presidente e ainda foi reeleito é porque votaram nele, se até hoje Sarney está no poder alguém o elegeu. Está tudo ligado, tudo na mesma circunstância, todo mundo na farinha do mesmo saco. Bush, Hitler, Sarney não são enviados do demônio, não, eles são enviados da nossa própria sociedade.



A mudança que tem que ser feita não é verbal é de atitude, é no nosso dia-a-dia, no nosso meio, nos nossos valores, naquilo que a gente quer ver mudar no Brasil e até no mundo. Não é uma tarefa fácil quando se vive em tempos onde a palavra não tem mais valor e o "salve-se quem puder" é lema, mas se não comerçarmos a mudança dentro de nós mesmo, não vamos conseguir mudar o que está fora de nós. 
É como aquela frase do Mahatman Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo".