domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre o jornalismo e o conceito de objetividade

      Levantei hoje com vontade de dar uma geral em tudo, inclusive no Mac. Essa mania de sair lendo tudo, baixo um monte de arquivos que leio e depois não jogo fora, o que não vale a pena, claro.
    Nessa "faxina virtual" achei um trabalho que fiz ano passado, para matéria de Teoria do Jornalismo, com o mestre Fernando Almeida de Sá. Digo mestre porque esse é mesmo, não participa do pacto de mediocridade da educação brasileira... O trabalho consistia em falar sobre o que o aluno achava do conceito de objetividade e relacionar com um dos filmes passados em aula. Não preciso explicitar a opinião aqui, nessa introdução, ela está claramente presente no texto:

            Comentário sobre o Jornalismo Audiovisual 
         Em 1513, o filósofo Nicolau Maquiavel escreveu em sua mais famosa obra,“O Príncipe”, que a natureza do homem é movida por suas paixões. A história da humanidade era, portanto, cíclica, pois o homem a construía em cima das mesmas emoções, expressando-as de modos diferentes em cada época. Nesse tempo, a imprensa começava a tomar forma e Maquiavel não chegou a viver seus dias com esse mecanismo de informação. Mas será que se ele tivesse vivido os tempos “pós-Gutenberg”, seria capaz de dizer que todos os homens são movidos por suas paixões, menos os jornalistas, que ao relatarem um fato, coloca-as de lado e escrevem o acontecimento sem nenhuma intervenção subjetiva?
       É nesse argumento que se sustenta a Teoria do Espelho, as notícias são o que são porque a realidade assim a determina e o jornalista que a escreve, como diz o parágrafo da segunda opção de comentário: “(...) deve ser mero intermediário entre a realidade e o receptor, sem qualquer intervenção subjetiva”. Essa teoria está enraizada até hoje nas grandes redações e é objeto de constante defesa por parte daqueles que insistem em dizer que o recheio de suas pautas é contido de ingredientes como total transparência e objetividade real.
       Esse é um difícil discurso a ser aceito. Ao olharmos para uma situação trazemos conosco uma lente, essa lente não é somente de aumento, é uma lente de bagagem. Tudo aquilo vivido, lido, escutado, aprendido, entra em ação quando nossos olhos fisiológicos miram algo e automaticamente jogam a imagem na mente gerando a interpretação. A interpretação é feita em conjunto dessa “aparelhagem” que trazemos e que não pode ser separada ou anulada na elaboração de uma notícia porque ela é subjetiva, pessoal e intransferível. Querer dizer que o olhar é puro, a objetividade integralmente presente e negar a influência do estado pessoal do jornalista, é pura demagogia.
      No filme “O Jornal” isso fica claro quando a diretora (Glen Close) de um famoso jornal norte americano coloca seus feridos sentimentos sobre o editor (Michael Keaton) e o impede de publicar uma notícia verdadeira em troca de uma errada, somente para que ele não vença a disputa de ego que há entre os dois. 

Glenn Close e Michael Keaton em "O Jornal"

       Será que Maquiavel perdeu a valiosa chance de conhecer uma parte dos homens que conseguem a espetacular façanha de em oito horas por dia deixar de lado sua subjetividade e paixões para entrar em uma redação? Ou será que esses homens esqueceram de dizer que não são meros robôs e que a influência pessoal acontece sim, porém seu compromisso com a ética com o público é sempre buscado ao máximo na elaboração da sua notícia?
Fico com a segunda opção, pois sou a favor do homem pensante, crítico, existencial e de um jornalismo munido de diálogo com o leitor, opinião e transparência dentro do que ela realmente pode oferecer e não a que um falso espelho pode apresentar. 

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